Apologética Adventista

Desenvolvimento do Pensamento Cristológico na IASD

Eduardo Marinho | 07:58:00 | 1 comentários


A divindade e a pré-existência de Cristo foram aspectos doutrinários da Cristologia, que se estabeleceram, progressivamente, no seio da IASD até a primeira metade do século XX.
Os unitarianos. procedentes dos congregacionalistas, se estabeleceram, durante a história americana, na região da Nova Inglaterra (berço do adventismo sabatista) como um movimento anti-calvinista e contrário à ligação Igreja e Estado, por isso são chamados de “Ala Esquerda.” [1]
Os movimentos religiosos surgidos nessa região sofreram essa influência teológica anti-trinitariana. Nesse contexto, emergiu entre outras seitas (Universalistas, Batistas do Livre Arbítrio), o grupo religioso arminiano denominado de cristãos, também conhecidos como Conexão Cristã (anti-calvinista e anti-trinitariano). [2]
O órgão de comunicação da Conexão Cristã para o leste dos Estados Unidos era o The Christian Herald and JournaL Essa publicação cedo se identificou com o movimento milerita. Em seu número de 3 de dezembro de 1840, o editor Philemon R. Russel critica a Josias Litch por ter posição favorável à Trindade, pois, segundo ele, (Russel), os cristãos não são trinitarianos. [3]
Por outro lado, Guilherme MilIer, a principal figura do movimento milerita, no seu segundo artigo de fé, datado de 5 de setembro de 1842, demonstrou crer que a Divindade era constituída de três pessoas distintas. [4] A origem religiosa de outros mileritas, contudo, atesta sua posição favorável à doutrina da Trindade, pois eram em sua maioria procedentes da Conexão Cristã.
Em janeiro de 1846, Tiago White se pronunciou contra a doutrina da trindade e da eternidade divina de Jesus Cristo. [5] No artigo “The Seventh-day Sabbath not Abolished”, de fevereiro de 1854, J.B. Frisbie declarou-se antitrinitariano, por considerar tal conceito como sendo de origem pagã.
No mesmo ano, James M. Stephenson negou ser Cristo co-existente e co-eterno com o Pai. [6] No início de 1859, Uriah Smith registrou sua crença de que o Espírito Santo é apenas um princípio de vida. Três anos depois, D. Hildereth manifestou a mesma opinião.
Em 1869, J. N. Andrews declarou que só o Pai é o único ser do Universo que não tem início, enquanto R. F. Cottrell afirmou, no mesmo ano, que a Trindade é uma perigosa doutrina procedente do papado. O pastor D. E. Robinson, que era íntimo da família White, afirmou, em 1871, que James White permaneceu contrário ao trinitarianismo até a sua morte. [7]
Apesar de toda rejeição de se escrever um credo, em 1872, os adventistas sabatistas apresentaram suas crenças no livro Fundamental Principles. Parece que houve, então, uma disposição propositada em omitir qualquer declaração sobre a Trindade. [8]
Isso, por si só, permite admitir que, possivelmente, havia uma tendência contráría ao trinitarianismo. O Instituto Bíblico reunido na primavera de 1877, em Oakland, na costa do Pacífico, deixou transparecer, através de seus palestrantes, que o Espírito Santo é uma mera emanação ou influência proveniente da parte de Deus. [9]
Importantes líderes do movimento adventista, portanto. repudiavam a doutrina trinitariana. Josué Himes, Tiago White, José Bates, 1. N. Andrews, John Loughborough, lJriah Smith, J. E. Waggoner.’[10] D. M. Canright e outros manifestaram algumas vezes sua rejeição em considerar Jesus Cristo como co- eterno e da mesma substância do Pai, igualmente negaram que o Espírito Santo fosse um ser pessoal. [11]
Durante o século XIX, a maioria dos líderes e escritores adventistas era anti-trinitariana e via o Espírito Santo como uma energia, que possibilita a presença de Deus em todo lugar. Ao mesmo tempo, Jesus Custo era considerado como não tendo a mesma substância do Pai, nem sendo co-eterno e pré-existente com Ele. O Filho de Deus era considerado como subordinado e derivado do Pai). [12]
Havia pelo menos sete razões por que os primeiros adventistas rejeitavam a doutrina da Trindade, e com ela a divindade de Cristo e a personalidade divina do Espírito Santo: para eles (1) a doutrina da Trindade era anti-escriturística, (2) o trinitarianismo foi considerado contrário ao bom senso (irrazoável). uma vez que confunde as pessoas da Trindade e o número delas, (3) destruía a personalidade de Deus, porque consideravam-no como um ser incorpóreo, (4) subvertia a doutrina da expiação por não crer que o divino morreu em Cristo, (5) o trinitarianismo originou-se do paganismo, porque ensinava o politeísmo, (6) era uma herança teológica do papado e (7) opunha-se à vida devocional, pois não via em Deus uma pessoa detinida. [13]
Nesta fase da crise cristológica estava em jogo o futuro do que seria a Doutrina de Deus dos adventistas do sétimo dia. O direito de se crer ou não em Cristo como sendo da mesma natureza de Seu Pai envolvia a aceitação ou a rejeição da Trindade e, portanto, da personalidade divïna do Espírito Santo, além de comprometer a finalidade missiológica dos adventistas do sétimo dia. A suplantação desse conflito doutrinário foi um processo gradativo.
D.T. Boudeau é chamado por Russel Holt de o “precursor do trinitarianismo”, pois, tão cedo quanto 1864, ele declara Jesus como sendo igual a Deus e possuindo toda a plenitude da divindade. Doze anos depois, registra-se uma declaração de Tiago White em que a crença dos adventistas do sétimo dia na divindade de Cristo era muito próxima do conceito trinitariano.
No mesmo ano (1876), N. Downer declarou que a ressurreição de Cristo foi um ato próprio, de Deus Pai e do Espírito Santo, referindo-se assim às três pessoas da Divindade. [14] Essas declarações são uma evidência que havia pessoas entre os adventistas do sétimo dia estudando o tema da Trindade.
A última década do século XIX marcou o período d mudança no estabelecimento da divindade de Cristo, na aceitação da personalidade divina do Espírito Santo e da doutrina da Trindade.
Quinze anos após a declaração de Dower (1891), Lee S. Wheeler comentando Efésios 4:4-6, declara que, nessa passagem e em muitas outras da Escritura, é feita uma distinção entre o Pai, o Filho e o Espírito. [15] Um ano depois, foi editado na Bible Student’s Library dos adventistas do sétimo dia, um artigo de Samuel T. Spear (pastor batista), sob o título de ‘The Bible Doctrine of the Trinity.” [16]
Em 1895, Alonzo T. Jones pregou na sessão da Conferência Geral, um sermão em que apresentou o relacionamento pessoal entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo. [17]
No mesmo ano aparece mais uma declaração de Ellen White sobre o assunto, quando afirmou que há “três pessoas viventes no trio celestial”. [18] Em 1898, é publicada a primeira edição do livro Desejado de Todas as Nações onde ela declara, entre outras coisas, que, em Cristo, há vida original, não derivada. [19]
ElIen White é o ponto decisivo para o entendimento da Divindade para os adventistas do sétimo dia. [20] Outro fator também relevante foi o falecimento da maioria dos líderes unitarianos até o início da primeira década do século XX. É em parte por isso que a IASD retardou sua visão missiológica por cerca de 57 anos (1901). [21]
As declarações de fé dos adventistas, ao longo de sua história, demonstram uma clara mudança sobre o assunto. Foi, contudo, em 1931, que os adventistas afirmaram a Divindade como três pessoas co-eternas, onipotentes, onipresentes e oniscientes. [22] Depois, o relatório da Conferência Bíblica de setembro de 1952 deixou confirmada a plenitude da divindade de Cristo como aparece no livro Our Firm Foundantion. [23]
Cinco anos depois (1957), publicou-se o livro Questions on Doctrine preparado por um representativo grupo de líderes e eruditos adventistas do sétimo dia. [24] apresentando ao mundo evangélico um claro perfil evangélico da doutrina adventista do sétimo dia.
E, em 1971, o pastor LeRoy E. Froom pôs na mão da igreja sua discutida análise sobre 1888, enquanto contribuía decisivamente para o estabelecimento final do conceito de Trindade, da plenitude da divindade de Cristo e da personalidade divina do Espírito Santo. Conceitos esses confirmados, posteriormente, pela declaração das Crenças Fundamentais, votada na Assembléia Geral de 1980, em Dallas. [25] Dessa forma, este aspecto da crise cristológica estava suplantado.
- Autor: Luiz Nunes, Doutor em Teologia Pastoral e professor emérito do SALT-IAENE; artigo publicado na Revista Teológica do SALT-IAENE de Janeiro-Junho de 1997.

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Um comentário:

  1. Excelente artigo. Voce poderia citar as referencias? Aquelas referidas pelos colchetes.

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